Ao passar por entre as folhas
secas, contemplando o tempo novo que se aproximara, ouviu um ruído, como se
algo caísse dos galhos e se precipitasse por terra. Seus olhos miraram ali,
aquela pequena vida, em penugem que caíra do ninho. Passarinho...
Tomo-o com cuidado entre as duas
mãos, as mesmas que nesse ato deixou de envolver o próprio coração, deixaram de
proteger-se de seus medos e naquela frágil criatura depositou-se. Saindo de si,
deu-se, como o próprio ninho que de plantas viçosas, outrora ressequidas e
mortas, no amanhã o serviam de abrigo. Ninho...
E o tempo, conhecedor das
potências e fraquezas fez seu papel. Penugem agora espessa, asas mais
fortalecidas e um coração que já alçara voo, olhos adiante, desejos de ir
além... As mãos quentes da menina já não lhe pareciam o suficiente, nem tão
pouco as propostas de estadia, mesmo seu grato querer, por dar-lhe proteção,
saciavam diante da proposta de sonhar na carne, nas asas, o pretendido tocar do
céu. Partir...
A menina já parecia compreender
que grande parte não caberia a si, por maior empenho, por mais que o quisesse
ali, sob seu cuidado, o passarinho fora criado para outras instâncias, outras
distâncias e um dia teria de partir. Em uma de suas tentativas de alimentá-lo
fora ferida por suas garras afiadas e entristeceu-se. Sentiu a incontida
inclinação de cobrar o amor depositado, de exigir reconhecimento pelo confiado,
esquecendo-se de todo aprendizado que aqueles tempos de doação incondicional
haviam oferecido. Dar-se...
Pensou ela em soltá-lo naquele
momento, lançá-lo sem titubear, abandoná-lo ao seu querer, ali, no mesmo lugar
do encontro, para que já forte ou não ele seguisse seu rumo, já que era isso
que seu coração pequeno somente em medida ansiava. Mas ele ainda precisava dela,
seria prematura essa ruptura. Desejo e ação, ainda não eram passos
concomitantes e ele, ao seu modo, a amara. Seria livre, sendo o que para sempre
ele fora chamado a ser, nos ares de sua missão, seria essa a maneira mais bela
que ele encontraria de demonstrar seu amor. Gratidão...
E foi assim, que no tempo
favorável seu amigo alçou saudade. Não doera tanto, pois existira um sopro
confortante que vinha do centro do jardim: Essa é minha vontade... – e acalmara
não mortificando o bem querer, mas dando aos impulsos de posse, sentido de
missão cumprida de gratuidade. Oferta.
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