quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A ARTE POR HERANÇA






O artista maior, por ser detalhista quis ter três olhares igualmente diferentes de sua arte criada, transformada, amada. Um que sopra, separa, dá vida, outro que intensifica, abrasa, renova e um ainda que toca com corpúsculos, sensibilidades, toque humano, dando a tudo tons avermelhados de sangue, de amor...

Eis que daí só pôde vir uma herança. Amor e arte, corações criados para amar, para dar formas, sons e movimentos ao amor e assim, ofertar às retinas. Para evidenciar os milimétricos detalhes criados, constantemente pisoteados pela pressa. Cores, esquecidas nas fuligens do tempo...

Corações e mentes, lançados a ofertarem toda criatividade pelas coisas do alto. Mas não deslocada da alma, está o humano: artista que chora, não consegue encenar a vida, as renúncias de cada dia, as dores, as ofertas, as saudades. A grande obra está aí, pois esses não nasceram de uma constância de amor, muitos deles partiram de fora para dentro nesse encontro com sua alma de artista. Foi o amor, sempre presente, imerso ou submerso nas vontades que uma hora transbordou...

Um coração que foi criado para amar dessa maneira não pode estar só, não pode se afastar. As carências são como telas frias, tintas raras e multicores abandonadas num canto escuro, onde qualquer mão pode esboçar formas nada belas, distorcidas, disformes, vazias, desperdiçadas.

A mente precisa ser lapidada. O coração ordenado, a alma alimentada, para que não se tornem saciadores do próprio ego. Sensibilidade não canalizada para o Amor vira arma perigosa. Disso, os que morrem a cada dia pelos deslumbres e futilidades do passageiro são relatos em carne viva, diários...

Às vezes surge um turbilhão de idéias, como uma incessante chuva, mas por grande tempo pode haver um silêncio interior. O que os místicos têm por noites escuras, o artista experimenta, como se Deus purificasse assim as ânsias. Assim, experimentam um pouco dos preparos do céu. Assim se atraem mais pelo místico e deixa as inclinações da carne que constantemente os ferem no olhar.

É corpo e espírito que unidos formam movimentos, pois os movimentos de amor os precedem... Como se cada membro gritasse pela santificação aos corpos que por tantas vezes deixam o mais puro se ausentar. É o movimento que reza, criando uma linguagem universal, comunicação que a alma entende, seja qual for o coração que sofre.

Essa arte é autêntica, sai de uma fonte nova, não tem por referências mãos humana, mas espelha-se no autor das novidades, de tudo que é criado. Pois a trinitária ação artística só existiu para unir-se aos movimentos menores de amor. Os portadores desses não pretendem engrandecer a si, não ofertam talentos para seu louvor, investem em talentos multiplicados, que surgem a cada dia, e assim os convertem para o Amor...

O coração desse artista não cessa de amar... E para ser um com o do Amado vive as cruzes e os transpassametos diários de quem ressuscita, mas passa pela cruz.

O velho constantemente, de maneira até mais doída se levanta, rasga, quer amordaçar... Os apelos surgem de todos os lados, como se conhecessem a quem querem cercar, e de fato conhecem... Mas àquele que deu suas formas para o Amor, não anseia outra mão além do oleiro da alma, artista absoluto, detentor de toda arte...

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