sexta-feira, 16 de março de 2012

Ouve e conta-me...


Ah! Se tudo o que respira tivesse voz audível, compreensível, para poder contar tamanhos feitos...
Se as ondas ao quebrarem nas praias pudessem exprimir a força que as impulsionou, o que vislumbraram até ali...
Se o tronco que se contorce em vastos anos pudesse traduzir cada nó que o compôs em contos e histórias da noite, e cada estalo do fogo que aconchega gritasse sua dor, suas experiências...
Se a noite estendesse preenchida, não só grilos mas frases que a envolvessem, como a revisão do que foi o dia, e,  mesmo no silêncio de repouso, não permanecesse   uma só lacuna vazia, sem verdade, sem alegria, sem sentido de ser...
Mas a voz compreensível é privilégio de poucos, de criaturas especialmente criadas para compor em frases, cantos e letras, voz e compreensão, para dar sentido às formas vistas, traduzindo as cores, dando grito à profundidade tão perfeita do criado...
Mas antes, de que tudo se exprima em voz, grito, palavra projetada:  
Ouvir... 
Também privilégio de quem condensa a voz e ama...
Ouvir...
Compreender, digerir, como se um filtro de emoções decantasse aos poucos pelos discernimentos da alma, esta vasta tradutora de infinitos...
Ouvir...
Para que a voz ganhe forma e seja direcionada aos  outros postos capazes de levar tudo mais a dentro, mais intimamente, mais ao pulsar.
Ah! Se quisessem me escutar...

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