quinta-feira, 26 de maio de 2011

A Videira





 



Nessas estradas de contínua novidade, a cada dia me deparo com graças sempre novas...
Hoje, a oração me atentou mais ao que sempre esteve ao redor, e que meu olhar distraído, por vezes voltado para dentro de mim, quase deixou escapar quão belo aprendizado...

Hoje, vivo no sul da França, na região do Vaucluse, lugar diferente de tudo o que poderia comparar em minha terra de origem. Lugar também belo, mas uma beleza delicada, rara, mística, inexplicável, que estaria empobrecida em meus limitados detalhes. Enfim, ouso mencionar algo muito particular desta beleza, que tem me acompanhado desde minha anterior morada na região du Var, na costa do Mediterrâneo: a vinha, as videiras, as parreiras, arbustos de uvas por melhor descrever. 

Estão em todo trajeto visível, nos arredores das estradas, onde a vista nem pode mais alcançar... Lá estão elas. Agora, não simples alegoria bíblica, nem em imagens somente, mas aqui, diante de meus olhos, tocadas pelo mesmo vento que agita meus cabelos e me toca a face. 

No inverno, eu as contemplava com certa tristeza, um misto de esperança, pois sabia que ali havia vida. mas como pareciam mortas essas vinhas... Os ramos secos, como que esquecidos pela própria terra. A seiva recolhida, o mistério da natureza que nos ensina o poder do recolhimento, o silêncio inquietante, como um emudecimento do brotar... Sim, havia vida no profundo, nenhum olho seria capaz de descrêve-la. Havia vida no profundo, lá onde só quem cria poderia contemplar e ser dono do tempo.Mas quando chegaria a primavera? Quando aquela aparente dor silenciosa cessaria? Quem poderia ouvir esse grito? Quem poderia medir o frio que invadia aquela vida? 

Quando chegou a estação esperada, pude compreender o clamor do esposo do Cântico << O inverno já passou e as vinhas em flor exalam seu perfume>>, Sim! O inverno passa e o grito da primavera se expressa imediatamente. Brotos verdinhos pulsam a vida preservada, preparada, guardada, alimentada da seiva para esse tempo dispersada. Tudo no seu tempo, tudo tem seu tempo e o tempo tem seu Tudo...

 Que meus olhos e vida nunca esqueçam da mensagem da videira, que elas me acompanhem ao longo de outras estradas e que eu possa me fixar sobre a Videira Verdadeira mais e mais...

Mas, aí é tema para outros frutos...







Nenhum comentário: