O que se deve ainda questionar?
A vida está em questão, ou é uma questão de vida?
Temos presenciado tanta polêmica acerca de questões do aborto: da liberação ou não, do "direito" ou não de realizá-lo. As posturas zelosas da Igreja sofrem indagações, gera-se toda uma especulação ao entorno de excomunhão, vírgulas a mais, pontos a menos, deveres de autoridades. Aí também se dá uma boa oportunidade de conhecermos melhor nossos dirigentes, em suas contradições sobre a vida.
Enfim, coloca-se a espiritualidade como parte reserva da receita, complemento na hora das penúrias, nada relacionado com o mundo real, onde carne é carne, espírito, se der é espírito... Deus é o solucionador imediato de necessidades, mas jamais o conciliador. Questioná-lo sobre tudo isso? Não há necessidade. Culpá-lo pelas conseqüências de nossos falhos atos? Sim, afinal Ele é Deus...
E ficamos nessa rebeldia sem causa, nos propositais e insolucionáveis casos polêmicos que geram audiência nos programas sensacionalistas da TV. Em paralelo aos homicídios e barbáries, que elevam o ibope, a indignação, a revolta das pessoas, acomodadas em seus lares e incontidas em seu involuntário e tendencioso julgar, culpar e condenar, pela natureza humana tão estimulada. A alma? Ah! Essa não se estimula... Custa ter olhar de misericórdia... É mais difícil... Fácil é mergulhar num senso comum que relativiza tudo e diz: _ A Igreja deveria ser menos radical, pois existem casos e casos...
Em sua Encíclica Evangelium Vitae, o papa João Paulo II expressa: ‘No caso de uma lei intrinsecamente injusta, como aquela que admite o aborto ou a eutanásia, nunca é lícito conformar-se com ela, nem participar numa campanha de opinião a favor de uma lei de tal natureza, nem dar-lhe a aprovação com o seu voto’.[1]. Isso expressa com clareza que nosso opinar já nos dá crédito perante Deus e nossa verdade, como católicos que somos. E como dói o coração e Deus ver seus filhos em dúvida acerca da maior oferta Dele para conosco, a vida, a singular escolha de cada um.
Numa sociedade que as avessas dá forma aos conceitos de direito e liberdade, o que esperar? Coerência? Ao contrário, pois o elevar dessa persuasão que gera a oposição à vida, se mergulha em prisões de ditaduras ainda maiores que a de regimes totalitários. É a ditadura do relativismo, que impõe o ‘existem casos e casos’...
Relativiza-se a vida e aí nada mais pode ser livre. ‘Reivindicar o direito ao aborto e reconhecê-lo legalmente, equivale a atribuir à liberdade humana um significado perverso e iníquo: o significado de um poder absoluto sobre os outros e contra os outros. Mas isto é a morte da verdadeira liberdade’[2]
Ao longo da história presenciamos grandes revoltas ou pequenas manifestações populares, em vista de se conquistar ‘direitos’. Muitos foram lícitos e até coerentes, mas parece que as efervescências atuais sobre direito de si, independência do corpo, autonomia feminina, questionamento e revolta perante dogmas da Igreja, fossem de grandes conquistas esquecidas. Como se o coletivo não fosse prioridade, mas o senso individual, não da busca de si, mas da auto-satisfação.
Quer ser livre? Tome essa camisinha.- Quer falar o que pensa? Questione a Igreja, que afinal não muda seus conceitos antiquados... Sim, zelamos pela família, mas não abrimos mão de especular a infidelidade, o homossexualismo, a indecência, a anulação de infância por uma adolescência precoce e consumidora, enfim... Façam o que julgamos e não olhem como agimos! Eis os detentores das potentes mídias, os formadores de opinião...
É como o país que faz grandes companhas pela paz e patrocina guerras, ou eleva projetos ambientais e se nega a assinar acordos de não poluição. Ou ainda cria grandes slogans pela família e não zela pelo bem mais caro, a vida.
Não pode haver paz verdadeira sem respeito pela vida, especialmente se é inocente e indefesa como a da criança não nascida.[3]
Michele Lobo
Um comentário:
Não precisa, mas quero!
Que belo texto!
Sim, vida é vida e ninguém a precisa provar, apenas contemplar e esperar que o milagre do amor aconteça, pois quando há vida ele sempre acontece!
Obrigada por você, tão cheia de vida e coragem!
Beijos
Shalom,
Luciana
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