terça-feira, 14 de julho de 2015

Sobre o perdão


A simpática imagem roubou-me a atenção dia desses...
Poderia ser reencontro de parentes distantes, irmãos que não se viam há muito,
Ou qualquer previsível gesto de amor...
Mas o que surpreende aqui é a 'discrepante' ou 'incoerente' razão para tal imagem...
O pacato senhor, viúvo de 94 anos, pai de dois, com aspecto de vovô bonzinho traz em seu passado uma marca... Um rótulo que dentro de si ecoa mais que qualquer voz exterior...
Fora um soldado nazista, o temeroso “contador de Auschwitz”, que recebia além de contagem das vítimas do holocausto, seus pertences, suas histórias e por tantas vezes usurpou-se disso...
Tem por sua conivência em crimes, um marco de aproximadamente 300 mil mortes, mesmo sem ter tocado, ferido ou acionado nada, participava moralmente
Isso também me levou à reflexões profundas: sem tocar, mas na conivência, podemos ser coautores de mortes, inclusive da alma de muitos...
Quando não amamos
Quando não perdoamos
Quando julgamos
Quando acionamos as câmaras do gás da indiferença
Disparamos armas mortais na impaciência
Quando ao invés de termos maduras soluções para questões de afinidades, nos auto-afirmamos
não crescemos, mas alimentamos mágoas
Mas, em que esse abraço comove, ou move questões?
Ela, judia, vítima do holocausto.
Sobrevivente de experimentos que como cobaia sofria
Ela, que poderia acionar uma injeção letal, ou quaisquer métodos de vingança. Seria talvez aplaudida pelo senso de 'justiça' que rege a 'coerência' desse mundo
Ela que tudo perdeu naquela que foi uma das maiores demonstrações do que a desumanização do homem pelo poder pode gerar
Mas ela o olhou nos olhos, profundamente
Repetiu ao seu modo uma frase que o rasgou profundamente
EU O PERDÔO!
Ele sem reação beijo-a, sorriu, meio que desacreditando em tão ato...
O algoz se tornou vítima do amor...
Em tempos de intolerância, onde amar se torna figura deformada
Onde em busca da defesa de igualdade, cada qual se torna mais desigual, colocando Deus num contexto disforme
Em tempos de projetos tão pessoais, onde o ódio mina na primeira correção, onde o primeiro gesto revela que não há madura conversão, eis a frase daquela mulher:
O PERDÃO É A MAIOR VINGANÇA!
Fico eu em minha miséria, por vezes recolhendo cacos das decepções com pessoas
Por vezes, culpando-me por não saber amar na medida do Tesouro que me é confiado
Mas a vida vem com suas lições e nos devolve a espátula e a pedra bruta que é o recomeço
Pedra de esculpir, não pedra de atirar
Vamos lá recomeçar?


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