segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Cenas móveis


Um dia, quando trabalhava num cinema, instigada à curiosidade subi no andar da projeção e observei naquele espaço escuro e com um mistura de sons, quão fascinantes era àquela descoberta humana, capaz de em segundos projetar imagens simultâneas a tanta coisa, com ajuda da luz, da velocidade, do som que separava vozes e instrumentais de ruídos, passos, hélices, tiros, sendo eles mais o menos altos, dando mais ou menos ênfase, sendo a cena mais ou menos repentina. Tudo isso, sem que o público lá em baixo assentado, com olhos fixos percebesse a junção de detalhes, pois somente tinha uma história a sua frente, que gerava emoção, quase como se estivessem dentro dela.


Alguns detalhes me chamaram a atenção, como os meninos da projeção que com uma luva branca deixavam girar na máquina todo àquele rolo gigante de filme deslizar entre seus dedos e iam assim tirando toda poeira. Haviam rolos de muitos e muitos metros que vinham em muitas latas separadas e era necessário todo cuidado para que não fossem imendados fora de ordem.


De tudo, o que mais me atentou foi que ao esticar uma tira com mais ou menos 30 quadros de fotos transparentes se contra a luz, (como àquelas dos negativos fotográficos de antigamente, só que positivos), descobri que a junção daquelas, projetava na tela um segundo de imagem, isso mesmo, um segundo. Com a velocidade iam formando movimentos.


Enfim, lembrei deste trecho de minha vida curiosa.


Hoje, assim também vejo a vida:


Um complexo rolo com remendos de história, cheia de adereços, sons, luzes mais ou menos densas, em determinados momentos até sem luz.


São quadros que se unem para dar movimento, são muitos quadros por segundo, que em mais ou menos velocidade projetam cenas vivas, ou ficam por muito tempo projetando cenas estáticas, sem movimento.


Hoje, percebo muitos movimentos em minha vida, mas não sou chamada à vê-la somente imóvel numa poltrona, sofrendo emoções simuladas por uma complexidade de coisas. Sou convidada a mais uma vez adentrar a projeção, perceber a minuciosidade Do que a comanda, tira as poeiras, faz as imendas. Sou chamada a selecionar as cenas que deverão ser imendadas, os momentos que o silêncio deverá compor alguns instantes, que os estrondos não agridam os ouvidos dos espectadores, que as luzes externas não destruam a sensiblidade do filme.
Sou chamada à subir sempre, pois tenho livre acesso ao Projetor. Mas em alguns momentos é necessário descer, pois as imperfeições maiores são vistas e reparadas na vivência do que foi projetado.


Nenhum comentário: